quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Vantagens do hábito de ler

 

Por José Romero Araújo Cardoso*

O hábito de ler proporciona descortinar horizontes que sem este estaríamos fadados à restrição no que tange à necessidade infinita, ilimitada de buscarmos galgar novas compreensões referentes a coisas e fatos, ao mundo sempre em construção, processo contínuo que vem embasando a dinâmica contínua dos dias atuais.
Ler permite novas estruturas de pensamento, enredando as exigências de um tempo cada vez mais condicionadas ao complexo e complicado domínio informacional, condição sine qua non de afirmação em um intricado jogo no qual o conhecimento invariavelmente ocupa posição de destaque em virtude de suas inúmeras proporcionalidades.
Justifica-se luta ímpar de homens e mulheres, a exemplo do mecenas Vingt-un Rosado, para que a leitura integrasse o cotidiano das pessoas. Ensejada no distante ano de 1949, a Coleção Mossoroense, não obstante os percalços e desafios contemporâneos, tem destaque na História das criações literárias.
Vingt-un compreendia perfeitamente que a leitura permite despertar clarividência necessária para dimensionar-se a estrutura de complexas criações humanas, notabilizando a forma como estas poderiam ser avaliadas ao longo dos tempos, das eras nas quais as mesmas perdurassem, pois nada é sólido e concreto, precisando que reavaliações e conjecturas possam ser pensadas.
Exemplo de transigência em seios oligárquicos, nos quais imperam ideias rígidas a fim de fomentar processos de reprodução, Vingt-un não se eximiu em publicar certos temas proibidos, como trabalhos sobre o polêmico sindicato do garrancho, surgido no oeste potiguar em função da força que a leitura possui.




 
O poder da leitura é tão impressionante que a partir da doação de clássicos do marxismo pela professora mossoroense Celina Guimarães Viana aos filhos de sua lavadeira, intuindo fazê-los bons leitores, que sem querer despertou-se nestes a consciência de classes e a efetivação de fato histórico que até a decisão do idealizador da Coleção Mossoroense era negado pela elite pensante, pela História oficial.
Temos que ler tudo e sabermos cessar os exageros, pois não creio ser salutar ao respeito à dignidade humana tomarmos como referência livros que pregam o ódio e o dissabor, a exemplo de Mein Kampf, escrito por Adolf Hitler quando de sua prisão após a frustrada tentativa de tomada de poder.
A leitura deve se constituir em hábito saudável, não que cause descontentamento e constrangimento conforme o padrão inserido em linhas. Clássicos da História literária brasileira estão eivados de inenarráveis preconceitos, os quais atingiram louvados pensadores nacionais, militantes históricos de partidos de esquerda. Encontramos em diversos livros escritos por Graciliano Ramos e Caio Prado Júnior festival inconcebível de afronta à dignidade humana.
A monografia sobre o centenário republicano, inserida em Alexandre e Outros Heróis revela ódio inaudito, quando Guimarães Rosa defende que em Canudos estaria a ralé canalhada roça. Taxar negros e mestiço como sub-raça é constante nas obras do citado alagoano. Em Memórias do Cárcere notamos essa tendência inconcebível, mesmo para a época que o autor viveu e, sobretudo, em razão da simpatia com a esquerda brasileira e internacional.
Em Evolução Política do Brasil, Caio Prado Júnior chegou a pregar o necessário cerceamento da raça negra, inibindo-a, como verdadeira intocável de casta indiana, a qualquer possibilidade de superação do que a classe da qual provinha fomentou enquanto regra para o processo de construção social coletiva.
O hábito de ler deve fazer parte do cotidiano das pessoas, mas devemos superar o joio do trigo, conseguindo-se isso somente com a entronização da necessidade de pluralizar o humanismo e o amor como pedras fundamentais de todas as nossas ações.



 
 
*José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contato: romero.cardoso@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário