domingo, 15 de abril de 2012

EXCLUSÃO, INCLUSÃO E A EJA NA ATUALIDADE.




Maria Veruska da Silva¹
Marcela Ferreira Lopes²


1 INTRODUÇÃO


Presenciamos uma sociedade em constante e profunda transformação marcada pela exclusão social acentuada, diante disso, a educação de jovens e adultos, por vários anos, vem recebendo diretamente fortes influências vindas do campo social. Com isso a mesma, vem tentando se adaptar ao processo de globalização e mudanças referentes aos processos de trabalho. Este trabalho objetiva analisar as questões de exclusão e inclusão social e como através da Educação de Jovens e Adultos podemos atuar em uma prática social que venha incluir estes jovens e adultos desprovidos de oportunidades no cerne do contexto social atual atendendo às exigências da globalização, dos avanços tecnológicos e às mudanças no mundo do trabalho.


2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ANÁLISE SOBRE A EXCLUSÃO E A INCLUSÃO SOCIAL


          O modelo de sociedade atual guiada, desde tempos remotos, pela ideologia da classe dominante e influenciada pela forte globalização nos permite visualizar a marcante presença da exclusão social, no sentido de que se o indivíduo não se adequa às exigências da ideologia dominante nem aos avanços da globalização, estes sujeitos sofrem discriminação social.
A educação que para nós seria o caminho mais próximo de vencer a exclusão social nos leva também de forma mais rápida a esta, sendo que esta educação traz uma cara maquiada de ideais democratas, que se observamos bem, isso é apenas uma forma de “fazer de conta” que garante os direitos constitucionais do sujeito. A escola, que não é de hoje, com sua ideologia efetivamente elitista nos apresenta estatisticamente percentuais elevados de analfabetismo “total” e “funcional”. (GONÇALVES, 2005). Estes resultados, evidentemente, favorecerão ao alto índice de evasão e fracasso escolar, pois a escola traz exigências que são desiguais perante as camadas sociais. Dessa forma Bourdieu apud Gonçalves(2005, p. 72) nos traz que:

O sistema escolar, apesar de sua aparente democratização, calçada na ideologia da “escola libertadora”, se constitui, de fato, como um poderoso instrumento da manutenção das desigualdades sociais, logo, atuando em prol da reprodução das desigualdades sociais.

Então quem são estes sujeitos vítimas das desigualdades sociais? São aqueles que no dizer de Bourdieu apud Gonçalves(2005) herdam o capital cultural de suas famílias? Que são filhos de pais que tiveram sucesso escolar, profissional? Claro que não. São aqueles sujeitos que são originários das camadas populares desprovidas de oportunidades, que cedo têm que adentrar no mundo do trabalho para manterem sua sobrevivência. Dessa forma não conseguem percorrer sua trajetória escolar no tempo regular determinado levando-os a evasão e ao fracasso escolar.
Diante dessa realidade e preocupados com a desarmonia social e ambiental que afeta a sociedade surge à necessidade de pensar e analisar a Educação de Jovens e Adultos como forma de adaptar esse público alvo às mudanças ocorridas e aos processos de trabalho exigidos pela globalização. Dessa forma surgem os debates sobre a Educação de Jovens e Adultos que intensificados pela CONFITEA (Conferências Internacionais de Educação de Adultos) enfatizam a união entre a educação, o social e o político na atual história, tendo como eixos norteadores a “educação ao longo da vida” e questionamentos com os “pilares da aprendizagem”. (SCOCUGLIA, 2010).
A Educação de Jovens e Adultos compreende-se como uma modalidade de ensino da Educação Básica que visa não somente alfabetizar os jovens e adultos que, por um ou outro motivo, não tiveram a oportunidade da escolarizaçãono ensino regular, mas proporcionar a esses jovens adultos uma educação que possadesenvolver seu senso crítico como também os inserir no contexto social atual. Esta categoria vem passando por muitas transformações com os passar dos tempos
          Estes debates mundiais com parcerias entre a UNESCO e algumas universidades brasileiras, acerca da Educação de Jovens e Adultos selecionam e discutem alguns temas transversais considerados necessários para a adequação da Educação de Jovens e Adultos no cerne da inclusão social.
          Uma EJA que alfabetize dando acesso à cultura escrita e à informação, que aconteça como prática social e não apenas transmissão vertical de conteúdos, que possa transformar a linguagem escrita e falada em conhecimento e aprendizagem levando em consideração o contexto atual, a pluralidade cultural destes jovens a adultos. Para enfatizar isto “as discussões teóricas e as pesquisas foram intensificadas, buscando redefinir as relações entre língua oral e língua escrita e os vínculos entre língua escrita e contexto de uso” (SCOCUGLIA, 2010, p. 19).
          Um outro ponto debatido é a questão de proporcionar uma EJA que prepare o jovem para o trabalho, pois estes jovens clientes da EJA, são pessoas despreparadas profissionalmente, pois no seu decurso de vida tiveram de adentrar em atividades informais que não necessitavam de conhecimentos escolares, mas que se faziam necessário em suas vidas. Mas com os avanços tecnológicos e com as exigências da globalização estes jovens precisam desta educação preparadora e igualitária. E não apenas uma educação que possa minimamente compensar seus anos escolares perdidos. Mas uma educação que lhes possa proporcionar um melhor trabalho que se traduzirá em uma melhor qualidade de vida e sua inserção na sociedade do contexto atual. Dessa formaScocuglia destaca:

O “trabalho como princípio educativo” e seus antecedentes históricos, especialmente quanto a superação da teoria do capital humano com o devido reconhecimentos dos níveis de pauperização da população e a necessária vinculação da formação educacional com a produção (2010, p. 22)

É recorrente a luta pela cidadania e direitos humanos isso não é diferente dentro dessa modalidade de educação; o perfil básico que se tem são em sua maioria sujeitos totalmente ou parcialmente excluídos do mundo do trabalho e da cidadania ativa. Para que os objetivos sejam alcançados é preciso verdadeiramente favorecer e está aberto ao diálogo, procurar fundamentalmente, incorporar a formação cidadã nos currículos voltados a EJA, aniquilar o predomínio da Pedagogia vertical e o conservadorismo de alguns grupos. Em concordânciaScocuglia nos diz que:

Os campos onde os direitos básicos dos seres humanos continuam a ser denunciados, reiteradamente, são aqueles que têm como sujeitos os jovens e adultos excluídos do mundo do trabalho e da construção da cidadania ativa, ou neles inseridos de forma precária e subalterna. (2010, p. 23)

Surge também a enorme necessidade de uma EJA voltadapara a inclusão da interculturalidade presente nos sujeitos do campo ou comunidades étnicas (Índios) levando em consideração o contexto vivido e trazendo em seu currículo e metodologia propostas que visem com os recursos disponíveis proporcionar uma aprendizagem e sua inclusão no mundo do trabalho respeitando sua diversidade, particularidade e identidade,para que possam alcançar a igualdade e o reconhecimento real de seus direitos.
Outra realidade na Educação de Jovens e Adultos é a grande procura dos jovens pela modalidade, jovens estes que talvez não tenham tido condições e oportunidades de seguir no ensino regular pelo fato de trabalharem o dia todo e somente à noite encontram a chance de estudar na EJA, que também passa por um processo de discriminação por ser oferecido em sua maioria à noite e excluindo o público de jovens e adultos que só podem estudar durante o dia. Estes jovens que procuram a EJA são justamente os profissionais que as exigências da globalização esperam.
O currículo da EJA deve oferecer uma educação voltada a sua formação profissional proporcionando uma maior participação do jovem na cidadania e sua preparação para o mundo do trabalho. Isso através da formação de professores capacitados e políticas educacionais engajadas nesses objetivos. Estas e as mudanças no mundo do trabalho como também as buscas pela garantia dos direitos de cidadania e a inserção do jovem na sociedade da informação e da comunicação apresentam-se como os desafios enfrentados com a educação dos jovens que integram as camadas sociais excluídas. (SCOCUGLIA, 2010)
Outro ponto que merece destaque nos debates em EJA é a discursão sobre gênero. Esta desigualdade na qual o homem sempre se sobrepõe à mulher vem desde os primórdios e se acentua ainda mais com os avanços tecnológicos da modernização e industrialização que foram supervalorizando e absorvendo apenas as capacidades masculinas. Dessa forma busca-se uma EJA que elimine qualquer prática discriminatória, pautada em políticas educacionais que visem a igualdade de gênero e a igualdade de oportunidades. Dessa forma Scocuglia defende que:

O êxito da equidade de gênero, no caso da Educação de Jovens e Adultos, está então, estreitamente relacionado com o tratamento que a EJA dá a outros temas importantes tais como: analfabetismo, relação entre educação e trabalho e atenção ao problema da pobreza. (2010, p. 28)

          A Educação de Jovens e Adultos é uma arena de discussões que traz as marcas de uma exclusão social visível e é também através de seu repensar igualitário, transformador, pluricultural e de uma prática social não mecanicista e não elitista que se pode levar a uma inclusão social propriamente dita.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS


          Tendo em vista, que a modalidade da Educação de Jovens e Adultos objetiva formar cidadãos críticos e participativos para sua inserção na sociedade atual, sociedade esta, complexa pelo avanço tecnológico e pelas mudanças no campo do trabalho se faz necessário, uma revisão curricular da EJA que venha a atender de forma específica as necessidades daqueles que a procuram. Para tanto, se faz necessário a qualificação dos profissionais atuantes na referida modalidade.
          É necessário desfazer o pensamento de uma Educação de Jovens e Adultos compensatória e pensar em uma EJA como prática social levando em consideração o contexto social do sujeito respeitando a diversidade, pluriculturalidade, identidade e desfazendo qualquer prática discriminatória.
Que ela se concretize determinando as exigências do desenvolvimento econômico, a equidade social favorecendo de uma vez por todas a cidadania, a formação de cidadãos críticos e atendendo às exigências do mundo do trabalho.

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1-  Formada em Pedagogia pela UFCG/CFP, atualmente cursa serviço social, aluna do curso de especialização em educação de Jovens e adultos com ênfase em economia solidária no semiárido paraibano na mesma instituição.

2-Formada em Geografia pela UFCG/CFP, Professora (EJA), atualmente cursa Pedagogia, aluna do curso de especialização em Educação de jovens e adultos  com ênfase em economia solidária no semiárido paraibano na mesma instituição
 




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