segunda-feira, 11 de novembro de 2013

e a palavra de hoje é .... SUPERAÇÃO!!!



Não é fácil a seleção de uma pós-graduação, principalmente em uma Universidade Federal, além de requisitos que são exigidos, existem outros que são cumpridos a risca como a tão chamada entrevista... Alguns se dão bem... Outros nem tanto ao ponto de serem excluídos do curso... Pois bem... Tive a sorte de passar na tal entrevista. Confesso também que tive amigos que me encorajaram para fazer a seleção...
            No decorrer das aulas me deparei com teorias, concepções, ideias que nunca antes tinha visto; metodologias, avaliações, objetivos, enfim, um conjunto de coisas que até então desconhecia. Adaptei-me a rotina- estressante - que eu escolhi. Durante a semana tinha que dar conta e se fazer presente nas aulas do curso de Pedagogia. Aos sábados manhã e tarde, estava lá eu, sentada procurando de alguma forma assimilar, compreender e até mesmo procurar entender a possibilidade de outra economia. Concordei, discordei, reformulei e tentei reescrever, sempre adaptando a minha realidade dentro das minhas possibilidades.
            Entre dias, meses, momentos, muitas vezes passou pela minha cabeça em desistir de tudo. Constantemente eu dizia que não iria conseguir que não aguentava mais, tanta formalidade, tanta centralidade, tanta ordem em minha vida, por causa dos estudos. Sem contar que o poder aquisitivo não/ nunca me ajudou. Sempre foi sacrificante, ter que chegar aos sábados e ter dinheiro para almoçar. Muitas vezes meu almoço foi uma latinha de coca- cola e um misto quente, porque senão não tinha como voltar pra casa. Aos domingos em casa, minha mãe, sempre me perguntava como eu iria voltar pra cajazeiras na segunda as 04 h da manhã... E eu sempre dizia que Deus iria mostrar um meio... E ele sempre me mostrava.
Com o passar dos tempos, já entrosada com a turma, com amizades, com certa afinidade com alguns colegas, caminhamos juntos em seminários, discussão de ideias, etc. Já no final das aulas (na última cadeira) certa vez surpreendi com o que uma determinada colega me disse:
Eis o diálogo:
- E ai Marcela? E a monografia? Já tá perto de concluir? (essa conversa foi 3 meses antes do término do prazo).
- Olá! Bem, ainda não comecei a escrever nada, mas estou lendo muito em relação ao tema. É um tanto complicado dá conta de duas coisas ao mesmo tempo...
Surpreendentemente ela olhou para mim e disse:
- Pois se fosse eu, eu nem tentava fazer nessa altura do campeonato, por que não vai dá tempo para concluir!
 Será que essa pessoa falou isso pelo simples fato que a monografia da mesma já estava concluída? Não sei... O fato é que fiquei surpreendida com a atitude e com o jeito que ela me disse, um jeito que é impossível descrever em palavras e frases!  Confesso que fiquei com isso na cabeça por alguns dias, cheguei até comentar com algumas colegas próximas a mim o ocorrido. Acredito que uma pessoa que trabalha na área da educação não pode ter tal postura. É preciso pensar o que vai dizer pra não machucar as pessoas ao redor... O tempo passava, as horas corriam, e chegava mais perto do dia do prazo final...  Ainda tinha que concluir o 3° período de Pedagogia, e graças a deus não tive muito problema com as notas... Felizmente não fiz uma final nesse período. Concluído, pude enfim me dedicar literalmente à escrita da monografia. Obstáculos foram muitos! Além de questões pessoais, tive dificuldade pelo fato de não ter sinal de internet em casa. Era só eu, o material que tinha no Pen drive e o programa do Word do computador (Risos). Lia, relia, rabiscava, apagava, sublinhava, dialogava, duvidava, comigo mesma madrugada adentro, noites a fio, tudo isso sem chegar a uma conclusão. No decorrer do tempo, tive “anjos” que me ajudaram.  Que me confortaram, que me ampararam, não só com vai dá tudo certo ou com você vai passar Marcela! Era mais que isso... O nervosismo era tão grande que por várias vezes achava que isso era sonho. Muitas vezes abandonava tudo pra ir dormir, achando que no outro dia era tudo diferente, que não iria ter isso. Me enganei muitas vezes.
Enfim! É chegado o momento mais difícil e também o mais prazeroso que caracteriza o término de um trabalho monográfico.  Considero como um “filho” que durante diversos meses consumiu tempo, noites de sono, atenção e cuidado. Diante de todas as “agruras” o sentimento que me invade nesse momento é gratidão.
Agradeço primeiramente a DEUS por está sempre ao meu lado, pela proteção, pelo olhar misericordioso por esta filha, por cada conquista alcançada. Ele é o meu Deus! Deus forte, Deus vivo!
 A incentivadora-mor, minha mãe MARIA DE FÁTIMA, pelo amor “inconteste”, pela abnegação, pela presença constante na minha vida, pelos ensinamentos. Ao meu irmão FILIPE, que sempre esteve ao meu lado: nas risadas, nas conversas, nas aflições.
 O mundo acadêmico é um universo cheio de caminhos, curvas e vários desníveis. Aos que se atrevem a entrar se deparam muitas vezes com o lado ruim, mas também com o lado bom. Nesse mundo encontrei pessoas nas quais jamais vou esquecer. Que através de seus ensinamentos cresci como pessoa e também como profissional. Ao meu orientador MS. VORSTER QUEIROGA ALVES agradeço por tudo! Pelas explicações, pelas ponderações e a grande contribuição que deu a este trabalho: A minha vitória também é vossa! A todos que fizeram parte integrante da banca avaliadora, obrigada pelas devidas contribuições.
Aos professores: DR. DORGIVAL GONÇALVES FERNANDES, MS. WIAMA DE JESUS FREITAS LOPES, MS. EDINAURA ALMEIDA, MS. ANDRÉ GOMES, que proporcionaram aulas maravilhosas e prazerosas aos sábados durante esse período de quase três anos. Nunca esquecerei.  Na minha vida profissional vocês sempre serão referências!
Agradeço imensamente a FERNANDO JÚLIO PERISSÉ DE OLIVEIRA um dos “culpados” que literalmente me encorajou através do diálogo “Freireano” para fazer parte desta Pós-graduação. Que através de suas palavras, de seus ensinamentos, aprendi que podemos sim fazer uma sociedade mais democrática, transparente, liberta das amarras, da perversidade de seus opressores. A ARIMATHEA BARBOSA pelo magnífico senso crítico que possui, pela simpatia e pela sinceridade nas palavras que sempre esteve presente em nossas conversas. Ao estimado professor Ms. JOSÉ ROMERO DE ARAÚJO CARDOSO (UERN) pela paciência, pelo carinho, pela atenção, um homem apaixonado pelo Sertão e pelas coisas do Sertão, responsável por introduzir durante todo o percurso da minha vida acadêmica, as várias leituras pertinentes e imprescindíveis ao ser humano.
Agradeço e tenho gratidão eterna a JANAÍNA BELO DE SOUSA, MICHELLY GOMES DE SOUSA SÁ. Um presente que Deus me deu, anjos que sempre estiveram ao meu lado (desde 2006) que sempre se fizeram presentes até o último momento de finalização desde trabalho, me confortaram com palavras e gestos dirigidas a minha pessoa quando eu própria pensava que não iria conseguir... Muito obrigada! A GISEUDA BENEVIDES, FRANCISCO ALMEIDA, RITA DE SOUSA, SUELY ROCHA, onde a cada sábado construímos uma amizade simples, singela e verdadeira.
Também agradeço imensamente a ADRIANA FERREIRA, THAÍZE RAMOS, TAMIRES RAMOS, FRANCISCA SOARES, MAYRLA SARMENTO, VANESSA TEIXEIRA e FRANCICLÉBIA FERREIRA pela paciência frente as minhas inquietações, minhas angústias, pelo convívio em Cajazeiras - PB.
A turma de PEDAGOGIA 2012.1UFCG/CFP especialmente a CÁTIA LARISSI, GÉSSICA GALDINO E MARIA MAGNA que dividiram comigo as angústias, o aprendizado e os ensinamentos a cada semana de aula no curso. Aprendo muito com vocês!
Estendo minha gratidão a Secretaria de Educação do município de Santa Cruz-PB, nas pessoas de JOANA DARC FERREIRA DE ARAÚJO, FÁTIMA ANTUNES e FRANCISCA LINDIMAR contribuindo com vários esclarecimentos no que se refere ao mundo da EJA no município.
Agradeço também a pessoas que direta ou indiretamente cooperaram para que este trabalho conseguisse atingir os objetivos propostos.
Obrigada a todos!
A gratidão é o único tesouro dos humildes.
William Shakespeare

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Chile – 11 de Setembro de 1973: Quarenta anos do início de uma dolorosa tragédia no Cone Sul




 Por José Romero Araújo Cardoso

          Manhã de onze de setembro de 1973. Santiago, capital chilena, amanhecia sob tênue chuva. O Presidente Salvador Allende adentrava o Palácio La Moneda, intuindo cumprir suas obrigações como chefe do executivo nacional.
          No entanto, o Presidente Constitucional Chileno não sabia que o Ministro da Defesa e a cúpula da Segurança Nacional haviam fomentado articulação, há tempos imemoriais, com a CIA, visando depô-lo. Corajoso e determinado, o médico e maçon que pensara em uma transição pacífica para o socialismo tinha mexido com interesses graúdos de grandes empresas transnacionais do ramo de mineração, sobretudo as que atuavam na exploração das riquíssimas reservas de cobre localizadas ao norte do País.    Além disso, passou as minas de carvão e os serviços de telefonia para o controle do Estado, aumentou a intervenção nos bancos e fez a reforma agrária, desapropriando grandes extensões de terras improdutivas e entregando-as aos camponeses.
          Salvador Allende conseguira no Congresso, apoiado na coalizão formada pela esquerda e partidos progressistas chilenos, denominada de Unidade Popular, anos antes, a nacionalização de verdadeiros impérios empresariais norte-americanos. O Chile tornara-se, ao lado de Cuba, um dos paraísos daqueles idealistas que acreditavam em novos rumos para a América Latina subjugada pelo imperialismo ianque.
          A aproximação com a ilha insurrecta era tão proeminente que Fidel Castro chegou a passar meses no Chile, pois encantado com a experiência desencadeada neste País sul-americano, tomou-o como referência para a região, enquanto sinônimo de luta pela liberdade.
          O ódio imperialista demonstrou toda sua intensidade quando o General Augusto Pinochet ordenou que suas tropas marchassem sobre o Palácio Presidencial. Aviões norte-americanos apoiaram o avanço militar quando da deflagração daquele que se tornaria um dos mais sangrentos golpes de estado já consolidado em toda a América Latina.
          Tímida comparação encontra-se na violenta deposição do governo Arbenz, na década de cinqüenta, na Guatemala. Na relação dos que seriam fuzilados encontrava-se Ernesto Guevara de La Serna, mais tarde imortalizado pelo apelido de “Che”.
          Allende resistiu bravamente, empunhando fuzil presenteado por Fidel quando da histórica visita ao Chile. No entanto, a desigual disponibilidade de homens e armas o fez tombar sem vida.
          O Chile, em razão dos ares pretensamente libertários, imortalizado no imaginário lúdico de centenas de guerrilheiros latino-americanos, expulsos ou fugidos dos seus países, era tido como porto seguro pela esquerda radical. Inúmeros militantes da luta armada no Brasil, como Fernando Gabeira, trocado pelo embaixador suíço quando do seqüestro e negociação efetivados pelo grupo liderado pelo Capitão Lamarca, buscaram refúgio no Chile de Allende.
          A chacina nas ruas de Santiago marcou consideravelmente o advento da extrema truculência dos militares chilenos que depuseram o presidente eleito pelo povo. Pessoas ligadas ao governo que estava sendo deposto, bem como os esquerdistas que buscaram exílio no Chile, foram literalmente caçados, assassinados friamente, torturados, aterrorizados pela violência inaudita que se instalou na “ilha de esperança” do Cone Sul.
          Os EUA transmitiram ordens incisivas para que as Embaixadas dos “Países Aliados” fechassem as portas para os seres humanos que estavam sendo massacrados no Chile. A Suécia desobedeceu as instruções vindas de Washington e transformou seu espaço de representação diplomática em tábua de salvação para inúmeros perseguidos.
          Se não fosse a ousadia e o humanismo do primeiro-ministro Olaf Palm, um dos mentores do Welfare State (Estado do bem estar Social) a criminosa caçada no Chile teria tomado proporções ainda mais perversa e devastadora. Muitos que foram perseguidos e conseguiram asilo na Embaixada Sueca choraram quando do assassinato do grande político daquele País Nórdico. Exilado na Suécia, Fernando Gabeira, um dos idealizadores do seqüestro do Embaixador Norte-Americano Charles Elbrick, salvou-se graças à decisão de Palm em abrigar o máximo de pessoas possível na Embaixada Sueca.   
          O Estádio Nacional, palco de históricas partidas de futebol, com destaque às disputadas na copa de 1962, foi transformado em campo de concentração para centenas de pessoas aprisionadas pelos militares rebelados contra o governo Allende.
          A ordem era não expressar sentimentos ou brados de revolta, mas o cantor e compositor Victor Jara desobedeceu-a, sendo vítima da ira ensandecida dos golpistas. Assassinaram-no com requintes de perversidade.
          Victor Jara era a maior expressão da música de protesto no Chile, considerado o Chico Buarque daquele país sul-americano. As canções que compôs ou interpretou destacaram-se pelo engajamento político e posicionamento em prol dos oprimidos. A antológica homenagem ao Comandante “Che” Guevara tem letra de Victor Jara (Aprendimos a quererte, desde la histórica altura, donde el sol de tu 
bravura,le puso cerco a la muerte. 
Aquí se queda la clara, la entrañable transparencia, de tu querida 
presencia, Comandante Che Guevara.
 ).  
          Personalidades respeitadas no mundo cultural, como o poeta Pablo Neruda, empreenderam fuga desesperada, atravessando a Cordilheira dos Andes. A residência do consagrado poeta chileno foi profanada pelos militares tresloucados com as ordens recebidas dos superiores, cujo destaque estava na efetiva inserção do Chile na execrável “Operação Condor”.
          Violeta Parra, grande nome da música chilena, cuja obra-prima encontra-se em “Gracias a La vida”, mesmo falecida em cinco de fevereiro de 1967, teve suas canções proibidas, pois sinônimo de luta contra a opressão era vista como símbolo das batalhas contra a exploração que tanto marcou o governo Allende.
          Mesmo longe, depois da consolidação do sangrento golpe de Estado, pessoas ligadas ao governo deposto foram assassinadas. Exemplo disso encontra-se na morte trágica de Orlando Letelier, nos EUA, juntamente com sua assistente, Ronni Muffet, em Washington, D.C. por agentes secretos da DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), a polícia política do regime militar chileno.
          Em onze de setembro de 1973 o terror tomou conta do Chile, pois a violência tornou-se marca indelével da ação dos militares que, agindo assim, assumiram compromisso irrevogável com o neoliberalismo e com a idéia de dominação veiculada pela ideologia americana com relação à América Latina.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.