quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O que é ser professor? Algumas reflexões





Rubem Alves, em um dos seus belos textos, nos fala do que significa ser educador, considerando-o em relação ao significado do ser professor como profissão. Em suas reflexões, aparece de forma clara a distinção entre ser professor e ser educador nos nossos dias, ou em um mundo capitalista em que tudo gira em torno do lucro. Assim, entre nós, já não podemos falar de professor como educador, pura e simplesmente, mesmo quando poderemos falar de educador como professor. Não quero aqui fazer um estudo do seu texto. Por isso vou me limitar às questões que ele apresenta de forma mais ampla, sem entrar nas minúcias de suas palavras. Dizer apenas que educado é aquele que tem em vista o educando, que pensa no crescimento deste e, em razão disto, tudo faz para que ele possa crescer, antes de tudo, como gente. Por isso, quem educa, ama, fazendo tudo com amor para que possa contar com mais alguém no mundo firmando-se como um autêntico ser humano.
Professor, para Rubem Alves, apenas uma profissão, conforme posto nos dias de hoje. Por isso, serve ao sistema capitalista, valendo tanto quanto uma máquina ou um outro instrumento que é usado na produção de uma mercadoria. A educação, como vemos, está posta aqui como uma mercadoria. Nada mais que isso. E assim como toda mercadoria, tem sua destinação, seja ela para o consumo ou para a revenda, isto é, a comercialização. Então, do professor, exige-se aquilo que se exige de todo operário na linha de produção, operando como máquina ou instrumento necessário à produção que deve ter por fim não a satisfação de necessidades humanas, em seu sentido mais amplo, mas visando tão-somente a acumulação de capital nas mãos dos proprietários dos meios de produção. Bom: podemos fazer profundas reflexões a partir desse entendimento. Mas vamos pensar no que possa significa, de forma objetiva, essa forma de conceber o professor, em sua diferença em relação ao educador.
Certamente, diferentemente do educador, o professor está atento ao compromisso que ele tem com o sistema, representado, na escola, pelo sistema educacional que, por sua vez, está vinculado ao sistema político e econômico do Estado. Por isso, não se trata de atender os interesses dos educandos, mas dos que comandam esse sistema, seja na condição de governo ou de comandantes da economia e da política do País. Neste sentido, precisamos perguntar sobre o que sustenta, nos dias de hoje, está lógica que faz do professor apenas um instrumento nas mãos desses indivíduos que comandam a política e a economia. Absorvidos por essa lógica, muitos são os que, ao exercerem a profissão na condição de professor, são cumpridores de tarefas, mas não educadores. Estou me referindo aqueles que, como diz com outras palavras Rubem Alves, são pontuais, expositores de conteúdo, que repassam na íntegra os planos de aulas para os alunos, conforme exigência da instituição, não segundo o que seja pertinente aos educandos. Pouco importa se há a assimilação dos conteúdos, se há ou não aprendizagem necessária à formação humana lado a lado com a formação profissional, quando for o caso. O que importa é servir à instituição segundo as exigências dela.
Em meios às muitas reflexões que se pode fazer disso, em um dia dedicado ao Professor, fico imaginando no que é preciso fazer, e no que de fato fazemos, quando alguém se coloca como educador ao exercer a profissão de professor. Certamente temos muito a dizer sobre isso, mas apenas querendo aqui chamar a atenção para o que possa significar, de fato, ser educador em um mundo como o nosso, eu gostaria de trazer para a discussão as relações que estão estabelecidas entre o sistema financeiro internacional que dá sustentação hoje ao mundo capitalista, onde o Estado tem ficado cada vez mais reduzido a favor dos interesses dos monopólios dos grandes grupos econômicos representados pelos banqueiros internacionais que têm seus discípulos nos sistemas financeiros nacionais representados pelos Bancos também nacionais. Neste sentido, consideramos os empresários que se vinculam a esse sistema e se fazem representantes do povo através dos processos eleitorais que colocam pessoas na condição de parlamentares ou executivos em termos de governo, em todas as esferas do poder. Entre esses empresários estão aqueles que se ocupam com o sistema educacional, que dão sustentação às escolas, sejam elas privadas ou públicas, para que todas juntas, obedecendo às diretrizes que refletem os interesses das organizações financeiras mundiais, nada mais façam que operar no sentido de que a educação seja mais um adestramento a serviço desses interesses. Com vistas nisso, falamos dos empresários que estão à frente dos estabelecimentos de ensino, visando acima de tudo o lucro, seja de uma forma direta, que se configura pelo que se paga para as diferentes formações profissionais, independentemente de sua qualidade, seja de forma indireta, preparando os que deverão servir às instituições financeiras como mão-de-obra qualificada. O que menos conta, se é que conta, é a formação humana, aquela que é visada pelo educador, certamente reprovado como professor, como bem o disse Rubem Alves no texto referido.
Essas poucas reflexões nos permitem pensar no significado dos cortes de verbas para a educação, bem como para os serviços públicos em geral, assim como nos levam a considerar todo investimento do governo no ensino privado, seja no seu plano legislativo ou executivo. As Emendas Constitucionais propostas no Congresso Nacional, no Brasil de hoje, apontam muito bem nessa direção. E isso diz das estreitas relações entre a privatização do ensino e os organismos financeiros internacionais representados pelo FMI e o Banco Mundial. Em meio a tudo isso, o que podemos dizer do Professor, quando insiste em ser antes de tudo educador, visando os interesses do educando, desdobrando-se em suas exigências para que ele cresça como gente, e não como uma peça a mais na engrenagem da produção capitalista sob o comando desses organismos. 


Cajazeiras, 15 de outubro de 2015
(Dia do Professor)
Manoel Dionizio Neto
(Professor/CFP/UFCG)

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