Professor, para Rubem
Alves, apenas uma profissão, conforme posto nos dias de hoje. Por isso,
serve ao sistema capitalista, valendo tanto quanto uma máquina ou um
outro instrumento que é usado na produção de uma mercadoria. A educação,
como vemos, está posta aqui como uma mercadoria. Nada mais que isso. E
assim como toda mercadoria, tem sua destinação, seja ela para o consumo
ou para a revenda, isto é, a comercialização. Então, do professor,
exige-se aquilo que se exige de todo operário na linha de produção,
operando como máquina ou instrumento necessário à produção que deve ter
por fim não a satisfação de necessidades humanas, em seu sentido mais
amplo, mas visando tão-somente a acumulação de capital nas mãos dos
proprietários dos meios de produção. Bom: podemos fazer profundas
reflexões a partir desse entendimento. Mas vamos pensar no que possa
significa, de forma objetiva, essa forma de conceber o professor, em sua
diferença em relação ao educador.
Certamente, diferentemente do
educador, o professor está atento ao compromisso que ele tem com o
sistema, representado, na escola, pelo sistema educacional que, por sua
vez, está vinculado ao sistema político e econômico do Estado. Por isso,
não se trata de atender os interesses dos educandos, mas dos que
comandam esse sistema, seja na condição de governo ou de comandantes da
economia e da política do País. Neste sentido, precisamos perguntar
sobre o que sustenta, nos dias de hoje, está lógica que faz do professor
apenas um instrumento nas mãos desses indivíduos que comandam a
política e a economia. Absorvidos por essa lógica, muitos são os que, ao
exercerem a profissão na condição de professor, são cumpridores de
tarefas, mas não educadores. Estou me referindo aqueles que, como diz
com outras palavras Rubem Alves, são pontuais, expositores de conteúdo,
que repassam na íntegra os planos de aulas para os alunos, conforme
exigência da instituição, não segundo o que seja pertinente aos
educandos. Pouco importa se há a assimilação dos conteúdos, se há ou não
aprendizagem necessária à formação humana lado a lado com a formação
profissional, quando for o caso. O que importa é servir à instituição
segundo as exigências dela.
Em meios às muitas reflexões que se
pode fazer disso, em um dia dedicado ao Professor, fico imaginando no
que é preciso fazer, e no que de fato fazemos, quando alguém se coloca
como educador ao exercer a profissão de professor. Certamente temos
muito a dizer sobre isso, mas apenas querendo aqui chamar a atenção para
o que possa significar, de fato, ser educador em um mundo como o nosso,
eu gostaria de trazer para a discussão as relações que estão
estabelecidas entre o sistema financeiro internacional que dá
sustentação hoje ao mundo capitalista, onde o Estado tem ficado cada vez
mais reduzido a favor dos interesses dos monopólios dos grandes grupos
econômicos representados pelos banqueiros internacionais que têm seus
discípulos nos sistemas financeiros nacionais representados pelos Bancos
também nacionais. Neste sentido, consideramos os empresários que se
vinculam a esse sistema e se fazem representantes do povo através dos
processos eleitorais que colocam pessoas na condição de parlamentares ou
executivos em termos de governo, em todas as esferas do poder. Entre
esses empresários estão aqueles que se ocupam com o sistema educacional,
que dão sustentação às escolas, sejam elas privadas ou públicas, para
que todas juntas, obedecendo às diretrizes que refletem os interesses
das organizações financeiras mundiais, nada mais façam que operar no
sentido de que a educação seja mais um adestramento a serviço desses
interesses. Com vistas nisso, falamos dos empresários que estão à frente
dos estabelecimentos de ensino, visando acima de tudo o lucro, seja de
uma forma direta, que se configura pelo que se paga para as diferentes
formações profissionais, independentemente de sua qualidade, seja de
forma indireta, preparando os que deverão servir às instituições
financeiras como mão-de-obra qualificada. O que menos conta, se é que
conta, é a formação humana, aquela que é visada pelo educador,
certamente reprovado como professor, como bem o disse Rubem Alves no
texto referido.
Essas poucas reflexões nos permitem pensar no
significado dos cortes de verbas para a educação, bem como para os
serviços públicos em geral, assim como nos levam a considerar todo
investimento do governo no ensino privado, seja no seu plano legislativo
ou executivo. As Emendas Constitucionais propostas no Congresso
Nacional, no Brasil de hoje, apontam muito bem nessa direção. E isso diz
das estreitas relações entre a privatização do ensino e os organismos
financeiros internacionais representados pelo FMI e o Banco Mundial. Em
meio a tudo isso, o que podemos dizer do Professor, quando insiste em
ser antes de tudo educador, visando os interesses do educando,
desdobrando-se em suas exigências para que ele cresça como gente, e não
como uma peça a mais na engrenagem da produção capitalista sob o comando
desses organismos.
Cajazeiras, 15 de outubro de 2015
(Dia do Professor)
Manoel Dionizio Neto
(Professor/CFP/UFCG)
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