sábado, 5 de maio de 2012

Ab´sáber e o petróleo potiguar






A importância do petróleo como força motriz para a economia nacional poderá ser vista na Matriz Energética Brasileira por Fontes Primárias, acompanhando de perto s Matriz Energética Mundial. Os combustíveis fósseis ocupam, no Brasil, a fração majoritária de 38,0% em nossa matriz, enquanto em nível mundial esta parcela era de 33,1% conforme dados de 2008.
Neste cenário está inserido o rio Grande do Norte (RN) como um dos principais 11 Estados produtores de petróleo e gás natural no Brasil, como responsável por 10,0% da produção nacional, com a extração média histórica diária de 80.572 barris. Quando se refere a produção em campos petrolíferos terrestres a posição do RN salta para o primeiro lugar nacional. Sua área de produção localiza-se nos domínios da Bacia Sedimentar Potiguar, operando atualmente com 77 campos terrestres na maioria em fase de produção e menos de dez em fase de desenvolvimento. Embora o número de poços em operação sofra variações frequentes, quando sua totalidade estava em 3.551 poços, 3.440 eram poços terrestres, e apenas 3,12% correspondiam aos poços localizados no campo marítimo da plataforma continental no litoral potiguar.
Em 2011 a produção de petróleo no RN chegou ao volume de 21,3 milhões de barris, com fração majoritária de 18,6 milhões de barris em poços terrestres e o restante, 2,7 milhões em plataformas marítimas. Transformando este volume total produzido em cifras monetárias, chegaremos ao valor anual de produção do petróleo potiguar em 2011 a 3,56 bilhões de Reais. Parte desta verba é transformada em “Royalties do Petróleo” que são distribuídos mensalmente para 94 municípios potiguares. No dia 23 de março deste ano a Agência Nacional de Petróleo informou o crédito de R$ 19.393.735,47 nas contas dos 94 municípios produtores, com o acumulado dos primeiro trimestre do presente ano de R$ 55.362.630,83. Os benefícios para os municípios e região são produtos das próprias instalações das unidades da cadeia produtiva do petróleo, uma vez que geram empregos, geram tributos, etc., e movimentam substancialmente a economia local e regional, os quais são somados aos “royalties” recebidos.
O desenvolvimento econômico e social em uma região petrolífera estava nas previsões do grande batalhador pelo petróleo potiguar, o agrônomo Vingt-Un Rosado, que em 1965, quando era diretor da Escola Superior de Agronomia de Mossoró, teve um encontro com o renomado geógrafo Aziz Ab’Sáber, levando a ele questões sobre a existência de petróleo naquele município.
A certeza do Vingt-Un Rosado teve início na sua busca incessante pelas provas técnicas e científicas sobre a existência de petróleo no Rio Grande do Norte. Foi no final da década dos anos 1940 que ele teve contato com o trabalho de autoria do geólogo norte-americano Jonh Casper Branner da Universidade Stanford, Califórnia (EUA), intitulado “Possibilidade de Petróleo no Brasil”, publicado em 1922. Conforme referência no artigo do Prof. José Romero Araújo Cardoso “[...] Branner enfatizou que dos cinco horizontes geológicos que produzem petróleo em outras partes do mundo, chamados Devoniano, Carbonífero, Permiano, Cretáceo e Terciário, são encontrados no Brasil [...]”; ”[...] Quando se referiu ao período Terciário destacou que, nas formações costeiras, parece inteiramente possível que esta zona contêm petróleo onde se alarga para o interior, como na Bahia, até 300 milhas, e Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte [...]”.
A partir das leituras iniciais em esparsos artigos, Vingt-Un tornou-se ferrenho defensor da ocorrência de petróleo no Estado do Rio Grande do Norte e de seus benefícios econômicos e financeiros. Na busca incessante por documentação que comprovasse a sua afirmação, os ecos do movimento “o petróleo é nosso”, ele encontrou aqui no RN, correspondência datada de 22 de fevereiro de 1854, do Padre Florêncio Gomes de Oliveira ao naturalista francês Louis Jacques Brunet que realizou estudos sobre o quadro natural nordestino, em meados do Sec. XIX, em comissão organizada pelo Governo Brasileiro. O Padre Flor6encio informou ao cientista francês sobre prováveis ocorrências minerais na Região Oeste potiguar.
Atas da Câmara de Vereadores de Apodi nos anos de 1852 e 1853 enfatizavam os estudos geológicos do Padre Florêncio, foi encontrada uma indicação frisando que “[...] em um dos recantos da lagoa desta vila, que está mais em contato com as substâncias minerais da serra tem-se coalhado, em alguns anos, uma substância betuminosa, inflamável e de boa luz semelhante à cera em quantidade tal que se pode carregar carros dela [...]”. Continuando o Prof. Cardoso referindo-se à obra do Agr. Rosado, “Minhas Memórias do Petróleo Mossoroense” publicada em 2000, ele transcreve: “[...] a <> referida na ata de 1852 poderia perfeitamente tratar-se de exsudações de óleo, fato não de todo desconhecido na Chapada do Apodi. Bancos fossilíferos com odor de <> é há muito conhecido na região[...]”. Outras provas foram encontradas por Rosado em jornal local, como no “O Mossoroense”, que relata no ano de 1908 que, “[...] o farmacêutico Jerônimo Rosado havia constatado a existência de elaterita no açude de carnaúbas (RN), sugerindo a utilização dessa combustível fóssil para iluminar a cidade. A elaterita é um betume elástico, enquanto fresco, endurecendo quando exposto aos fatores exógenos”.
A luta de Vingou Rosado em prol da pesquisa para a exploração comercial do petróleo não era bem recebida pelos governantes daquela época, e precisava de aval de pessoas de renome para as suas afirmações, para a materialização dos seus sonhos, acreditando a existência do “ouro negro” em território potiguar. Foi neste cenário que em 1965 o Eng. Vingt-Un Rosado se encontrou com o geógrafo Aziz Ab’Sáber. O relato sobre este encontro histórico foi narrado por Ab’Sáber quando de sua homenagem durante a realização da 62ª. Reunião Anual da SBPC, em julho de 2010 em Natal, RN. “[...]Ab’Saber conta que estava em Mossoró a trabalho: <>, informou, acrescentando que à época não poderia assinar o trabalho. Dessa forma, a plaqueta Duas Áreas na Região de Mossoró de Interesse para as Pesquisas de Petróleo, teve como autor Antônio Natércio de Almeida, nome inventado por Vingt-Un e cujas letras iniciais reproduziam as do verdadeiro autor Aziz Nacib Ab’Saber [...]”. “[...]Ab’Saber contou ainda que o estudo, que indicava as bacias entre o baixo Jaguaribe e o Mossoró-Apodi e entre o Mossoró-Apodi e o Piranhas-Açu como áreas propícias para a pesquisa de petróleo, foi entregue à direção da Petrobras, porém não conseguiu convencer. "Somente mais tarde, o próprio Vingt-Un esteve à frente da descoberta que confirmava sua hipótese de que Mossoró tinha petróleo", reconheceu.”
Em 1966, o prefeito de Mossoró contratou uma firma para abrir um poço d’água, supervisionado pelo geólogo Lúcio Cavalcante, na praça Pe. João Mota. O poço jorrou petróleo misturado com água e serviu de combustível para as lamparinas da população pobre “durante meses”. Mesmo assim, os poços experimentais perfurados pela PETROBRAS indicaram que a quantidade não era suficiente para a extração em nível comercial, e abandonou a proposta.
Somente em 1974, no início da Crise do Petróleo capitaneada pela OPEP, que o Presidente Ernesto Geisel autorizou a PETROBRAS a intensificar suas pesquisas em todo território nacional, na tentativa de reduzir as importações dos países árabes. Foi durante essa crise do petróleo que, em 1974, chegou a primeira plataforma continental na costa de Macau, RN, e no próximo ano, o poço marítimo RNS-3 já estava produzindo. 


Em 1979, quando perfuraram os poços de água para o abastecimento das piscinas térmicas do hotel Thermas, em Mossoró, apareceu petróleo novamente, desta vez em maior quantidade. O poço MO-13 originou o campo de Mossoró, em 1979. No início de 1980 foi perfurado com sucesso o poço Mossoró-14, o primeiro poço terrestre comercialmente viável nas terras potiguares. As perfurações dos poços terrestres foram intensificadas no início da década dos anos 1980, nos municípios de Macau, Areia Branca, Alto do Rodrigues e Mossoró.
Este ensaio foi produzido como uma homenagem ao inesquecível geógrafo Aziz Nacib Ab’Sáber (1924-2012). Ele foi lembrado por várias instituições potiguares por sua participação na história do Estado, principalmente como defensor da causa do “Petróleo Potiguar”.
__________________________________________
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE PETROLEO, GÁS NATURAL E BIOENERGIA/Superintendência de Participações Governamentais. Royalties crédito em: 23/03/2012. Brasília, DF: MME. 2012.
ARAÚJO, José Romero.. Fundação Vingt-Un Rosado/Coleção Mossoroense. Mossoró, RN. s/d. A batalha de Vingt-Un Rosado em defesa da ocorrência de petróleo na bacia potiguar
ARAÚJO, Vagner. A história do petróleo no Rio Grande do Norte. (2010).
COSTA, Mônica. Aziz Ab’Saber critica utilização da ciência para concentração de riquezas. Ciência Sempre No. 19. Natal, RN: FAPERN. 2011.
ROCHA, Marcus. O cenário atual do setor de petróleo no Rio Grande do Norte. Natal, RN: PETROBRAS. 2010.
SEGANTINI, Giovanna Tonetto; LUCENA, Edzana Roberta Ferreira da Cunha Vieira; OLIVEIRA, Ridalvo Medeiros Alves de. Análise do Impacto dos Royalties do Petróleo no Desenvolvimento Local dos Municípios Potiguares. Revista Ambiente Contábil – UFRN – Natal-RN, v. 1. n. 2, p. 12 – 21, jul./dez. 2009.
http://fmmdl.sites.uol.com.br/artigos/petroleo.htm
http://www.vagneraraujo.com/2010/08/historia-do-petroleo-no-rio-grande-do.html
http://www.blogdobg.com.br/2012/01/rn-e-o-5%C2%BA-maior-produtor-de-petroleo-do-brasil/

Valmir de França
*Doutor em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais/UEM e Universidade Rennes 2, França.
CIÊNCIA EM FOCO é uma Coluna que tem por objetivo a Popularização e Divulgação Científica, no contexto da Educação Científica.
Os temas são abordados em forma de comentários do próprio autor; através de vulgarização de artigos científicos; ensaios, por meio de traduções, de transcrições e demais meios para que o conhecimento científico chegue a todos os leitores de O CAIÇARA “ON LINE”.
*defranca@uel.br; defranca_v@hotmail.com
Endereço para acessar o CV LATTES:
http://lattes.cnpq.br/3639473647113056


Nenhum comentário:

Postar um comentário